sábado, 9 de novembro de 2013

Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira



A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem

http://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira#.Un1gzkIf1xk.facebook

Vândalos e Baderneiros (completo)

 
Filme curta documental que reflete sobre os conceitos de vandalismo e baderna. Tentando desconstruir o discurso midiático e do senso comum associado a uma campanha de criminalização de manifestações e protestos. Para alcançar um entendimento mais complexo e crítico sobre os termos.

sábado, 7 de setembro de 2013

Cientistas desenvolvem simulador de mídias sociais

Junho/2013
Elton Alisson | Agência Fapesp
midiassociaisO poder de difusão e a velocidade de propagação das informações nas mídias sociais têm despertado o interesse de empresas e organizações em realizar ações de comunicação em plataformas como Twitter e Facebook.
Um dos desafios com os quais se deparam ao tomar essa decisão, no entanto, é prever o impacto que as campanhas terão nessas mídias sociais, uma vez que elas apresentam um efeito altamente “viral” – as informações se propagam nelas muito rapidamente e é difícil estimar a repercussão que terão.
“Se antes uma pessoa divulgava uma informação no boca-a-boca para mais três ou quatro pessoas, agora ela possui uma audiência que pode chegar aos milhares de seguidores por meio da internet. Daí a dificuldade de prever o impacto de uma ação em uma mídia social”, disse Claudio Pinhanez, líder do grupo de pesquisa em sistemas de serviços da IBM Research – Brazil – o laboratório brasileiro de pesquisa da empresa norte-americana de tecnologia da informação – à Agência FAPESP.
Para tentar encontrar uma resposta a esse desafio, o grupo iniciou um projeto em parceria com pesquisadores do Departamento de Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP) a fim de desenvolver um simulador capaz de prever o impacto das ações de comunicação em mídias sociais com base nos padrões de comportamento dos usuários.
Os primeiros resultados do projeto foram apresentados no início de maio durante o 14th International Workshop on Multi-Agent-Based Simulation, realizado na cidade de Saint Paul, no estado de Minnesota, nos Estados Unidos e, posteriormente, no Latin American eScience Workshop 2013, que ocorreu nos dias 14 e 15 de maio no Espaço Apas, em São Paulo.
Promovido pela FAPESP e pela Microsoft Research, o segundo evento reuniu pesquisadores e estudantes da Europa, da América do Sul e do Norte, da Ásia e da Oceania para discutir avanços em diversas áreas do conhecimento possibilitados pela melhoria na capacidade de análise de grandes volumes de informações produzidas por projetos de pesquisa.
Segundo Pinhanez, para desenvolver um método inicial para modelar e simular as interações entre os usuários de redes sociais, foram coletadas mensagens publicadas por 25 mil pessoas nas redes no Twitter do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e de seu adversário político, Mitt Romney, em outubro de 2012, último mês da recente campanha eleitoral presidencial norte-americana.
Os pesquisadores analisaram o conteúdo das mensagens e o comportamento dos usuários nas redes de Obama e Romney, de modo a identificar padrões de ações, a frequência com que postavam mensagens, se eram mais positivas ou negativas e qual a influência dessas mensagens sobre outros usuários.
Com base nesse conjunto de dados, desenvolveram um modelo de simulação de agentes – um sistema por meio do qual cada usuário avaliado é representado por programas individuais de computador que rodam integrados e ao mesmo tempo – que indica as probabilidades de ação na rede de cada uma dessas pessoas, apontando qual o momento do dia mais provável para publicar uma mensagem positiva ou negativa com base em seu histórico de comportamento.
Uma das constatações nos experimentos com o simulador foi que a retirada dos dez usuários mais engajados nas discussões realizadas no Twitter do presidente teria mais impacto na rede social do que se o próprio Obama fosse excluído.
“Esses resultados são preliminares e ainda não temos como dizer que são válidos, porque o modelo ainda é inicial e muito simples. Servem, contudo, para demonstrar que o modelo é capaz de mostrar situações interessantes e que, quando estiver pronto, será muito útil para testar hipóteses e responder a perguntas do tipo ‘será que a frequência com que o presidente Obama publica uma mensagem afeta sua rede social?’”, disse Pinhanez.
A IBM já possuía um sistema que permite a análise de “sentimento” – como é denominada a classificação do tom de uma mensagem – de grandes volumes de textos em inglês e em fluxo contínuo (em tempo real de informação), que a empresa pretende aprimorar para disponibilizá-la no Brasil.
“Estamos trabalhando para trazer uma série de tecnologias e adaptá-las para a língua portuguesa e à cultura brasileira, uma vez que o Brasil é o segundo país mais engajado em redes sociais no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos”, afirmou Pinhanez.
Desafios
Segundo os pesquisadores, um dos principais desafios para a análise de sentimento de mensagens publicadas nas redes sociais no Brasil é que o português usado nessas novas mídias costuma não seguir as normas cultas da língua portuguesa, e isso não se deve, necessariamente, ao fato de o usuário não dominar o idioma.
“Existem convenções de como se escrever de maneira cool nas redes sociais”, disse Pinhanez. Por causa disso, um dos desafios no Brasil será o de incorporar o novo vocabulário surgido nesses fóruns.
Além disso, os textos são mais curtos e informais do que os publicados em sites de avaliações de filmes, por exemplo, como o do Internet Movie Database, em que os comentários são mais longos, mais bem formatados e rotulados.
“Com base nesse tipo de critério, podemos saber, de antemão, qual o sentimento do texto: se o usuário deu muitas estrelas para o filme é que ele está falando bem. E se deu poucas estrelas é porque sua avaliação foi negativa”, disse Samuel Martins Barbosa Neto, doutorando do IME e participante do projeto.
“A linguagem usada no Twitter é muito mais natural. Há muita expressão e variações de palavras, o que torna muito mais complicada a classificação das mensagens. Às vezes não se tem informação suficiente para assegurar que, de fato, um determinado tweet é positivo ou negativo, uma vez que ele não tem um rótulo que permita compará-lo com outros. Por isso, muitas dessas mensagens precisam ser rotuladas manualmente”, explicou Barbosa Neto.
Outro desafio é extrair dados das redes sociais. No início, o acesso aos dados das mensagens de redes, como o Twitter, era totalmente aberto. Hoje, é limitado. Além disso, o número de informações geradas por redes sociais cresceu exponencialmente, impondo aos pesquisadores o desafio de extrair mostras significativas de grandes volumes de dados para validar suas pesquisas.
“A rede do Obama no Twitter deve ter chegado aos 25 milhões de seguidores. Como podemos apenas extrair uma pequena parte desses dados, o desafio é garantir que eles não sejam enviesados – representando, por exemplo, apenas um nicho de seguidores – para gerar um resultado válido”, explicou Barbosa Neto.
Colaboração de pesquisa
Roberto Marcondes Cesar Junior, professor do IME-USP e orientador do trabalho de doutorado de Barbosa Neto, conta que o projeto de desenvolvimento do simulador de rede social é o primeiro realizado por seu grupo em colaboração com a IBM Research – Brazil.
O grupo do IME trabalha há dez anos no desenvolvimento de projetos de análise de dados usando modelos estatísticos em áreas como Biologia e Medicina, para descobertas de novos genes e de redes gênicas, por exemplo. E, mais recentemente, começou a desenvolver pesquisas para a aplicação de modelos matemáticos em Ciências Sociais.
“Ingressamos nessa área com o intuito de aplicar as mesmas técnicas matemáticas e computacionais em situações em que os dados provêm de alguma atividade humana, especificamente, em vez da ação de um gene ou de uma proteína, por exemplo, e vimos a oportunidade de trabalhar essas técnicas em redes sociais, que, do ponto de vista abstrato, têm muitas semelhanças com uma rede gênica, porque são redes que conectam elementos”, comparou Marcondes Cesar, que é membro da Coordenação Adjunta de Ciências Exatas e Engenharias da FAPESP e coordena o Projeto Temático “Modelos e métodos de e-Science para ciências da vida e agrárias”.
“Enquanto em uma rede gênica os elementos são os genes, que trocam informação bioquímica, em uma rede social os integrantes são os usuários, que trocam mensagens de texto”, disse.
A parceria com a IBM Research – Brazil, segundo Marcondes Cesar, possibilita implementar as ferramentas desenvolvidas na universidade. Para facilitar a realização do projeto, o estudante de doutorado orientado por ele foi contratado como estagiário pela empresa.
“Temos feito muitos projetos em parceria com universidades e instituições de pesquisa. Acreditamos muito em inovação aberta e atuamos bastante dessa forma”, disse Pinhanez.
Segundo Pinhanez, poucos grupos de pesquisa no mundo tentaram desenvolver um simulador de mídias sociais, em grande parte pela dificuldade de se montar uma equipe multidisciplinar de pesquisa.
“Acho que, pela primeira vez, a comunidade científica tem algo parecido com o mapa de quem conhece quem no mundo. É um mapa ainda incompleto, cheio de erros e enviesado, mas o nosso trabalho é uma das primeiras simulações de comportamento de um número tão grande de pessoas”, afirmou. “Antes, quando se fazia isso era, no máximo, com 300 pessoas, e era preciso ficar coletando dados por anos.”
O artigo Large-Scale Multi-Agent-based Modeling and Simulation of Microblogging-based Online Social Network, de Pinhanez e outros, pode ser lido nos anais do 14th International Workshop on Multi-Agent-Based Simulation.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ritos Corporais entre os Nacirema. MINER, Horace.








RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA


Um bom antropólogo se sente familiarizado com a diversidade das culturas. No entanto, as crenças e práticas dos Nacirema são tão inusitadas que devemos apontá-los como um exemplo dos extremos a que o comportamento humano pode chegar.

É interessante conhecer alguns dos rituais dos Nacirema, povo até hoje não bem compreendido. Trata-se de um grupo que vive em um território que se situa entre os Cree do Canadá, os Yaqui e Tarahumare do México e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw deu origem a sua nação.

A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evoluiu em rico habitat natural. Apesar de o povo dedicar muito do seu tempo às atividades laborativas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são despedidas em atividades rituaisO foco destas atividades é o seu próprio corpo, cuja aparência e manutenção aparecem como o interesse dominante deste povo.

crença fundamental dos Nacirema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e para a doença.

Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar estas tendências através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial.

Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos deste grupo cultural têm muitossantuários em suas casas, e, de fato, a alusão à riqueza de uma casa é feita em termos do número de tais centros rituais. Mesmo as moradias menos resistentes têm as câmaras de culto feitas das mais ricas paredes de pedra. Embora cada família, tenha pelo menos um dos tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias coletivas: são cerimônias privadas e secretas. Os ritos que ali acontecem são discutidos apenas com as crianças e durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios.

ponto central do santuário é uma caixa embutida na parede, onde são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem as quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Estes preparados são conseguidos através de uma série de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são alguns feiticeiros, cujo auxílio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os “médicos-feiticeiros” não fornecem diretamente aos seus clientes as poções de cura, eles apenas decidem quais devem ser seus componentes e então os grafam em uma linguagem que só é entendida pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dádiva, providenciam o encantamento necessário.

Os Nacirema não se desfazem das poções após seu uso, mas as colocam na caixa-de-encantamentos do santuário. Como estas substâncias mágicas são específicas para cada mal e os males do povo – reais ou imaginários – são muitos, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais suas finalidades e temem usa-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que o que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente a qual são efetuados ritos corporais, irá de alguma forma proteger o crente.
Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa de encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro.

Na hierarquia da feitiçaria, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os “sagrados homens-da-boca”. Os Nacirema tem um horror quase patológico, e ao mesmo tempo uma fascinação, com relação à cavidade bucal, cujo estado acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais, seus dentes cairiam, suas gengivas sangrariam, suas mandíbulas se contrairiam, seus amigos os abandonariam e seus parceiros os rejeitariam.

Estes feiticeiros têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de furadores, sondas e agulhas. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve para o paciente uma tortura ritual quase inacreditável. O sacerdote-da-boca produz cavidades onde são colocadas substâncias mágicas. O propósito destas aplicações é tolher a degeneração e manter amigos.

Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, o latipsoh, em cada tribo. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o milagreiro, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas específicas, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo.

Os cerimoniais no latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer dos prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou qual seja a emergência, os guardiões de muitos dos templos não admitirão um nativo se ele não puder dar uma dádiva valiosa. O suplicante que entra no Templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Ora, na vida cotidiana, o Nacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados sempre em segredo. Da perda do segredo do corpo logo na entrada no latipsoh, resultam traumas psicológicos profundos. Um homem, cuja própria companheira nunca o viu no ato de excretar, acha-se subitamente nu a auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais em um recipiente sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excrementos são utilizados por um adivinho para averiguar a natureza da enfermidade do cliente. Os suplicantes têm seus corpos nas submetidos ao escrutínio e aguilhoadas constantes.

As cerimônias diárias envolvem desconforto e tortura. As vestais inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas. De tempos em tempos, o médico vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam matar o neófito, não diminui de forma alguma a fé das pessoas nos médicos-feiticeiros.
Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um “ouvinte”. Este bruxo tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas. Os Nacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos, particularmente teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-mágica do bruxo é especial por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao “ouvinte” todos seus problemas e temores, desde suas dificuldades iniciais. A memória demonstrada pelos Nacirema nessas sessões de exorcismo é notável.

Há um ritual típico que é desempenhado apenas por homens. Trata-se de laceramento da superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em renúncia é compensado em barbaridade. Como parte destas cerimônias, mulheres introduzem suas cabeças em pequenos fornos por cerca de meia hora.

Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão ao corpo no seu estado natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos, e torná-los menores quando são grandes.

Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser esse povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo.

MINER, Horace. “Ritos Corporais entre os Nacirema” In: ROMMER et al.
You and Others: Readings in Introductory Anthropology. Cambridge,
Winthroop Publishers, 1973.

segunda-feira, 13 de maio de 2013


Tribos Urbanas: são constituídas de microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns.
Essas agregações apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. Segundo Michel Maffesoli, o fenômeno das tribos urbanas se constitui nas “diversas redes, grupos de afinidades e de interesse, laços de vizinhança que estruturam em nossas megalópoles”. A expressão "tribo urbana" foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, que começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985.
Em resumo: tribos urbanas é uma sociedade humana rudimentarmente organizada, que apresentam uma conformidade nos pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir.

O que são Tribos Urbanas ?
Tribo jovem ou tribo urbana é o nome dado a um grupo de pessoas com hábitos, valores culturais, estilos musicais e/ou ideologias políticas semelhantes. Algumas tribos são alternativas à ordem social baseada na organização familiar, outras são apenas nomes genéricos dados a determinados grupos de pessoas. Este tipo de afinidade entre jovens é mais comum nos grandes centros urbanos sendo, por esse motivo, os seus grupos designados como tribos urbanas.


Hoje em dia são muitos os jovens que, ao terem fracas relações familiares e de amizade, adoptam hábitos e comportamentos que os fazem serem aceites por grupos, por vezes mesmo que se tenham que tornar em algo que não são. Estes são grupos de pessoas que seguem um estilo próprio de vida. Possuem características que as definem, têm valores culturais, um modo de vestir próprio, as suas próprias músicas e os seus próprios ideais políticos e éticos.
Assim, as "Tribos Urbanas" podem ser caracterizadas como um fenômeno juvenil dos grandes centros urbanos, que se vai alargando por toda a parte.


Tribos Urbanas x Consumo

Sociedade de consumo é uma expressão utilizada para se referir à sociedade contemporânea. Consumir seja para a satisfação de necessidades básicas e/ou desejos é uma atividade presente em toda e qualquer sociedade humana. Para alguns autores, a sociedade de consumo é definida por um tipo específico de consumo. Para outros, englobaria características sociológicas, como a presença de moda, sentimento permanente de insaciabilidade. Nas sociedades tradicionais de outrora, a unidade de produção como a de consumo era a família ou o grupo doméstico. As famílias produziam em grande parte para o consumo próprio, sendo a sociedade composta por grupos de status definidos pelas roupas, atividades de lazer, padrões alimentares, dentre outros.
Os jovens necessitam de procurar amigos com os mesmos gostos e pensamentos, formando um grupo. É bastante difícil caracterizar profundamente um grupo, pois estes estão sempre em mudança gerando novos grupos. Há vários tipos de movimentos que existem e/ou já existiram, como: darks, drag queens, emos, from uk, geeks, góticos, grunges, headbangers, hippies, mods, nerds, playboys, plocs, preppys, punks, rastas, skinheads, taceurs, vegans, white powers e yuppies.  Hoje existe uma multiplicidade de grupos, tribos urbanas e indivíduos criando as suas próprias modas. Cada um faz as suas próprias escolhas segundo o seu senso estético e conforto. Independentemente da posição social, idade e renda, a pessoa pode ser quem ela escolher. Os produtos similares ou piratas permitem que estilos de vida sejam construídos e desconstruídos, lançados ao mercado e utilizados por pessoas cujas rendas certamente não são compatíveis com o uso de muitos deles nas suas respectivas versões originais. O estilo de vida na cultura do consumo reflete a individualidade, auto expressão, estilo pessoal e autoconsciente. E é aí que falamos nas Tribos Urbanas.
Ao longo deste século, a sociedade tem vindo a passar por profundas mudanças, tanto e origem tecnológica como ideológica, bem como vindo a criar novas subculturas urbanas, em espaços de tempo cada vez menores. O surgimento da tribo Emo, por exemplo, no cenário mundial é uma dessas novas mudanças na estrutura da sociedade. Mas existiram diversas correntes culturais e tribos urbanas que ditaram moda e redefiniram o consumo. Proveniente de um gênero musical, a ideologia Emo transcendeu o contexto musical ao ponto de se tornar um estilo de vida. Esta tribo é constituída por indivíduos com ocupações, interesses, ideologias, gostos musicais, modos de vestir e comportamentos semelhantes; o que caracteriza um grupo de consumo específico.
E é ai que o marketing deve perceber um leque de oportunidades.  A evolução do marketing é constatada à medida que este vem sofrendo transformações e se adaptando ao comportamento de consumo do seu público-alvo. O marketing inicialmente, relacionado com seu público, era voltado ao marketing de massa e posteriormente em busca de se adequar ao consumidor, definiu-se em marketing segmentado, marketing de nicho e marketing one-to-one. Este se caracteriza por produtos ou serviços cada vez mais individuais, buscando a satisfação de cada consumidor particularmente, ou seja, para cada nicho, para cada tribo urbana. O marketing moderno e o pós-moderno é um novo passo da evolução e adaptação dos estudos que envolvem o marketing. Para estes novos segmentos, o relacionamento que o consumidor tem com os produtos é sua principal característica, que visa entender e focar nos valores sentimentais que os produtos proporcionam a este consumidor.

Discriminação e preconceito: O preconceito pode ser  entre as tribos ou da sociedade com as  tribos.
Mesmo sem termos consciência disso, estamos sempre a julgar os outros com base na raça, cultura, sexo, ideias, opiniões, formas de vestir, dando origem ao preconceito.
Existe, por tanto, uma intenção de distinção que parte dos adeptos das tribos. Por outro lado, aqueles que não se identificam ou não aceitam os padrões propostos por uma tribo urbana podem rotular, estigmatizar e até alimentar uma dinâmica de discriminação e preconceito contra os seus integrantes.
Tudo isto deveria ser diferente, afinal, vivemos em um pais onde a diversidade cultural é tão presente, que o surgimento dessas tribos deveria ser vistos com outros olhos, aceitar seria a palavra chave, quando isto acontecer, haverá um lugar onde as pessoas enfim poderão ser compreendidas e aceitas como seres comuns.

Identidade ou Identificação:
Qual é a diferença entre essas duas noções tão parecidas?
Enquanto identidade se refere a um modo de ser estável e coerente, identificação diz respeito a “máscaras variáveis", até mesmo descartáveis, a relações "informais" e "afetivas" entre os sujeitos.
Se, no início do século XX, as meninas praticamente já nasciam com uma identidade preestabelecida - deveriam se casar na igreja, ter filhos e cuidar da casa -, uma jovem do novo milênio tem um leque muito maior de possibilidades de identificação à sua frente, tanto em termos de vida afetiva, sexual e familiar quanto de vida profissional.
Mas se antes a noção de identidade, de um grupo onde um indivíduo, remetia à ideia de unidade, estabilidade e coerência, hoje não é necessariamente assim. Alguém que durante a pré-adolescência se identificava como funkeiro aos 14anos pode se "converter" em emo, e aos 16 passar a se apresentar como ex-funkeiro e ainda emo e também-vegetariano.

quarta-feira, 10 de abril de 2013


Produção de Texto de  Gustavo Farias Medeiros    
Turma: 104  Data: 26/03/2013
Título: A sociedade e os indivíduos

A sociedade dos Indivíduos

     Com o passar do tempo vamos tomando conhecimento do que é a sociedade e o papel exercido por seus indivíduos. Desde muito tempo a Sociologia  vem  desenvolvendo o estudo de nossa sociedade, assim podemos ficar sabendo de seu funcionamento e como viver em sociedade, assim também como interagir com o indivíduo propriamente dito.
Uma sociedade é o conjunto de pessoas que sempre estão interagindo e se comunicando, numa sociedade sempre existem muitos indivíduos (pessoas), que sempre estão em  constante aprendizado e adquirindo cada vez mais conhecimento. Para conviver em uma sociedade precisa-se de calma e paciência, assim também como precisamos passar nosso conhecimento e aprender a recebê-lo.
 A sociedade sempre está em constantes mudanças, desde muito tempo temos enormes mudanças inclusive dos indivíduos. Na década de 1950, por exemplo, não tínhamos praticamente comunicação via telefone e internet, assim fazendo com que as pessoas  interagissem somente em suas comunidades próximas. O rádio era a principal forma de adquirir conhecimento, isso por que a televisão acabara de se iniciar no país brasileiro. Em todo mundo houve grandes mudanças desta época para os tempos atuais. No final do século XX, a internet começou a chegar ao país e a telefonia expandia de forma significativa, fazendo com que as pessoas passassem a se comunicar mais e adquirir ainda mais conhecimento. Podemos afirmar que houve muitas mudanças da década de 1950 para o tempo atual, ou seja, século XXI.
Há muitas diferenças na sociedade. Por exemplo, quando uma criança passa sua infância em uma periferia, ela tem uma educação e uma forma de adquirir o conhecimento de uma forma diferente de todas as outras, isso acontece também em muitas outras localidades.
Hoje em dia, principalmente aqui no Brasil, há muitas desigualdades no contexto de socialização e qualidade de vida de um indivíduo. Todo indivíduo no mundo, de alguma forma sempre será diferente do seu próximo, isso faz com que a sociedade sempre esteja em constante mudança. Quando se fala em uma pessoa ser diferente da outra, se fala em características físicas e psicológicas. Principalmente a parte psicológica de uma pessoa sempre estará influenciando na sociedade.
Agora voltando a falar do assunto de diferenças entre um tempo e outro da sociedade, podemos perceber que com o aumento das pessoas morando na parte Urbana das cidades, a sociedade mudou de forma significativa. Aqui no Brasil, por exemplo, há meio século tínhamos praticamente a maioria da população morando nas áreas rurais, isso fazia que as pessoas se interagissem de forma diferente da atualmente encontrada no país e no mundo.
Agora vamos abordar a forma que um indivíduo entra em um processo de socialização.

     Quando uma criança nasce ela recebe da família suas primeiras informações para que seu conhecimento sempre esteja em evolução. Após a família, ela recebe também quase sempre o conhecimento dos vizinhos. Após isso ela começa a frequentas instituições religiosas e de educação onde a criança adquire ainda mais conhecimento e acaba transmitindo também o que sabe. Certamente, o conhecimento que um indivíduo adquire quando criança levará para o resto de sua vida.
A sociedade é formada por todos os indivíduos, e quando há a mistura de conhecimento destes indivíduos a sociedade vai entrando em processos de mudanças. Todos estes indivíduos, incluindo nós, sempre os deveram perguntas da seguinte forma: "Podemos mudar esta sociedade que temos?”. Isso é fundamental para refletirmos da maneira que está à sociedade e se podemos fazer algo para melhora-la. Em todo mundo, praticamente, todos temos liberdade de opinião, isso também é fundamental para a implementação de novos conceitos e ideias.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Como fazer nossas Produções de Texto

Como fazer nossas Produções de Texto?


“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. 
John Donne

Quando o poeta escreveu este texto ele quis dizer que nós sozinhos não somos ninguém, fazemos parte de um todo!!

Os passos
1) interrogar o tema;
2) responder, com a opinião
3) apresentar argumento básico 
4) apresentar argumentos auxiliares
5) apresentar fato- exemplo
6) concluir 

Como fazer nossas Produções de Texto? Como expor com clareza nosso ponto de vista? Como argumentar coerentemente e validamente? Como organizar a estrutura lógica de nosso texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão?
Vamos supor que o tema proposta seja Nenhum homem é uma ilha. 
Primeiro, precisamos entender o tema. Ilha, naturalmente, está em sentido figurado, significando solidão, isolamento.
Vamos sugerir alguns passos para a elaboração do rascunho de sua redação. 

1. Transforme o tema em uma pergunta:
Nenhum homem é uma ilha? 

2. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda, concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu ponto de vista. 

3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua posição: aí estará o seu argumento principal. 

4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua posição. Estes serão argumentos auxiliares. 

5. Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato-exemplo pode vir de sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo, geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele d á uma marca pessoal à dissertação.
6. A partir desses elementos, procure juntá-los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você pode agrupá-los na seqüência que foi sugerida. 
CONCLUSÃO
A conclusão deve ser sucinta, conter apenas 01 parágrafo e deve retomar a ideia principal, desenvolvida no texto, de forma convincente. 
A conclusão é a apresentação da visão geral do assunto tratado, portanto pode-se retomar o que foi apresentado na introdução e/ou no CONCLUSÃO, relembrando a redação como um todo. É uma espécie de fechamento em que se parece dizer de acordo com os exemplos/argumentos/tópicos que foram apresentados no CONCLUSÃO, pode-se concluir que realmente a introdução é verdadeira. 

Perspectiva
Pode-se também apresentar possíveis soluções para os problemas expostos no CONCLUSÃO, buscando prováveis resultados (É preciso. É imprescindível. É necessário.), trabalhando com a conscientização geral. Por exemplo: É imprescindível que, diante dos argumentos expostos, todos se conscientizem de que ...
Frases-modelo, para o início da conclusão
Apresento, aqui, algumas frases que podem ajudar, para iniciar a conclusão. Não tomem estas frases como receita infalível. Antes de usá-las, analise bem o tema, planeje incansavelmente a CONCLUSÃO, use sua inteligência, para ter certeza daquilo que será incluso em seu texto. Só depois disso, use estas frases: 

Em virtude dos fatos mencionados ... 
Por isso tudo ... 
Levando-se em consideração esses aspectos ... 
Dessa forma ... 
Em vista dos argumentos apresentados ... 
Dado o exposto ... 
Tendo em vista os aspectos observados ... 
Levando-se em conta o que foi observado ... 
Em virtude do que foi mencionado ... 
Por todos esses aspectos ... 
Pela observação dos aspectos analisados ... 
Portanto ... / logo ... / então ... 

Nossas escolhas

Nossas escolhas

quinta-feira, 14 de março de 2013

HABEMUS PAPAM - TEMOS UM PAPA






Romero Venâncio avalia duas obras de membros da Igreja Católica Romana sobre aos possíveis rumos de uma das instituições mais poderosas do mundo, para afirmar: Francisco I está longe de ser o que os católicos precisam.

*por Romero Venâncio
É público e notório a crise porque passa a Igreja Católica Romana nos últimos 20 anos. Desde o encerramento nos anos do famoso “Concilio Vaticano II” onde o episcopado católico tentou colocar Igreja na rota do mundo moderno, que uma crise instalou-se na surdina e entre fiéis e clero e varou décadas até chega nos últimos anos numa intensidade sem precedentes no catolicismo romano.
Dois livros escritos em épocas diferentes indicam um sintoma dessa crise. O primeiro foi “Igreja: Carisma e Poder”, de Leonardo Boff nos anos 80. Nesse trabalho teológico de eclesiologia, temos um diagnóstico do poder na Igreja Católica e da maneira como é exercido pela cúria romana sem meias palavras.
Boff chama de “patologias do catolicismo romano” os graves problemas porque passa a Igreja ao longo dos anos e a sua peculiar maneira de ocultá-lo do povo ou de tentar resolver sempre pela forma autoritária. O próprio Boff foi vitima deste mesmo poder ao ser punido pelo então Cardeal Ratzinger, acusado de “posicionamento herético e ofensivo ao magistério da Igreja”.
A teologia da Libertação, na voz e nos escritos de seus teólogos e teólogas alertava para a crise e clamava por uma Igreja mais popular, mais evangélica e menos apegada ao poder e menos encastelada no poder da cúria romana. Nem precisa dizer que isso jamais foi escutado pelos que detém o poder real dentro catolicismo romano.
Mais recentemente, o teólogo Hans Kung lançou o livro “A Igreja tem salvação?” (2011) na Alemanha. Nesse “livro-diagnóstico” o padre alemão chama a atenção para a crise violenta que vive a Igreja e que os seus prelados parecem querer enganar-se ou enganar os fiéis.
A igreja (em particular, os que detêm o poder) não quer perceber o comportamento anacrônico em relação aos temas relevantes do mundo contemporâneo: condição da mulher, homossexualidade, novas formas de família, capitalismo predatório, crise do masculino, “fastio de espiritualidade”, celibato obrigatório sem sentido para os padres e freiras, etc.
Segundo o teólogo: “A Igreja católica está doente, talvez doente de morte. Retrógrada, fixada no elemento masculino, eurocentrada e arrogando-se detentora da única verdade”. Isso dito por padre e teólogo alemão! Nem precisaria dizer mais.
Hans Kung vai no ponto: a Igreja perdeu o passo do mundo moderno e sempre se torna reacionária em relação a esse mesmo mundo moderno, desatualiza o Evangelho como método. O resultado é o moralismo, o autoritarismo, o formalismo e as suas consequências: pedofilia alastrada entre o clero, repressão absurda dos sentimentos, uma concepção anacrônica de família, o machismo religioso abjeto e a centralização do poder cada vez mais na cúria romana.
A renúncia do Papa Bento XVI (acontecimento raro na história da Igreja) e a o propalado dossiê sobre a situação interna da Igreja foi o ponto mais alto dessa crise e da impossibilidade de fazer vista grossa do fenômeno.
Os cardeais foram rápidos diante da crise e da necessidade de escolher um novo Papa. A escolha recaiu sobre um cardeal argentino de nome Jorge Mario Bergoglio. Jesuíta de formação e pastor muito preocupado com questões familiares e canônicas, esse foi o homem que os membros do conclave escolheu para guiar a Igreja e enfrentar a crise agônica que marca o catolicismo romano atual.
Duas surpresas: um latino para Papa e o nome escolhido para o pastoreio, “Francisco” (referência direta ao santo mais amado do catolicismo. Difícil saber exatamente a razão da escolha do nome. Pode ser uma jogada de marketing? Necessidade de mudança? Indicação de vida frugal? Recado aos poderosos?
Sabemos que o novo Papa enfrenta sério questionamento da sua atuação como bispo na Argentina de não ter tomado posição enérgica contra a ditadura sanguinária que se abateu no seu País. Sequestro de crianças, tortura brutal, assassinatos e quase trinta mil militantes de esquerda. Onde estava o Cardeal Bergoglio? Quais os seus escritos de denúncia dessa situação de ditadura (como fez no Brasil os Bispos Helder Câmara e Paulo Evaristo Arns)? Visitou ele jovens presos nos porões das prisões argentinas durante a ditadura? Não sabemos exatamente. Sabemos de seu silêncio durante o regime ditatorial.
Impossível prever como será o papado de Francisco.  A crise continuará e exigirá coragem para enfrenta-la com politica pastoral efetiva. Podemos apenas pensar algumas coisas possíveis, tais como: um olhar mais misericordioso (em sentido franciscano) para os mais pobres, para as mulheres na Igreja e fora dela; uma compaixão e compreensão com a homossexualidade como uma “experiência sexual normal” na vida de qualquer ser humano; um enfretamento contundente à lógica do Capital e um saneamento necessário nas contas e gastos da cúria romana, com seu banco suspeito de lavagem de dinheiro.
Tarefa homérica terá o novo Papa. Que São Francisco, efetivamente, seja seu guia e que a “coragem rebelde franciscana” seja seu método. 13 de março de 2013 pode ser um marco ou pode ser mais um continuísmo anacrônico. A Sé não esta mais vacante, mas estará cheia do amor de Francisco de Assis e da sua coragem rebelde? A história é quem dirá.
*Romero Venâncio é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Claudio de Moura Castro

Tempos modernos, mas nem tanto

Morreu Steve Jobs, homem arrogante, obsessivo e briguento. Comportava-se como se as regras fossem apenas para os outros. Há quase um século, morreu F.W. Taylor, de desgosto, após haver sido humilhado no Congresso americano por sindicalistas agressivos. Era também arrogante, obsessivo e briguento. Lembremo-nos dos conselhos de Peter Drucker: julguemos as pessoas mais pelas suas qualidades do que pelos seus defeitos. E assim foi com Jobs. Além de outras proezas, todos reconheceram que criou os computadores pessoais, para pobres e ricos, transformando-os na ferramenta mais universal que jamais existiu. Contudo, na Terra Brasilis, Taylor não encontrou a sua redenção.
A cada ano, é crucificado por professores dos cursos introdutórios de administração de empresas. Como se não bastasse, mostram o filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, com sua versão grotesca das linhas de montagem. Hoje, "racionalização do trabalho" é assunto maldito. Mas submeto aos leitores a tese de que ninguém fez tanto pela produtividade da indústria. E, sem organizar o trabalho, não há produtividade. E, sem isso, não há qualidade de vida para os mais pobres. Essa foi a revolução que Taylor iniciou e obstinadamente defendeu durante toda a sua vida.
Taylor travou, a ferro e fogo, algumas batalhas desnecessárias ou erradas, daí a birra dos sindicalistas. Mas sua mensagem principal em nada envelheceu: em primeiro lugar, é preciso estudar cientificamente o trabalho, como um objeto de pesquisa séria. Em segundo lugar, é preciso redesenhar as máquinas e os processos de trabalho, para a dimensão humana.
Em terceiro lugar, é preciso preparar as pessoas para usar as máquinas da forma mais eficiente que se conhece. Essa foi a sua revolução. Tive uma oportunidade curiosa de brincar com as suas ideias. Ao terminar o meu mestrado, passei dez dias lavando pratos para os remadores de Yale — que se preparavam para a regata com Harvard. Eu e outro recém-graduado compartilhávamos 700 pratos sujos por dia. Estudei detalhadamente os movimentos de mão e o conjunto dos gestos.
Comecei a experimentar. Inicialmente, aumentou o tempo de lavagem, comparado ao do meu colega. Mas no décimo dia eu já levava metade do tempo. Em um mundo hipotético, seria duas vezes mais rico do que ele. Para mim, foi uma boa educação, mas nada prova para o mundo. Contudo, o descaso no Brasil com o processo de trabalho parece descomunal. Simplesmente, desistimos de fazer o que propôs Taylor, antes de avançarmos o suficiente, exceto em certos processos, em indústrias grandes. Onde quer que olhemos, a ferramenta é errada, o operário não sabe usá-la, o fluxo de trabalho é truncado, e há outros equívocos. Perde-se, pelo mau uso, um terço do material usado na construção civil. Ou seja, os operários não aprenderam a aplicar processos mais eficientes, como ensina o taylorismo.
Ao encomendar uma peça em uma madeireira, há boa probabilidade de que o desengrosso esteja com as navalhas cegas ou o operário não saiba ajustar a máquina. Como a luz da oficina é insuficiente, pode também vir daí o erro. Aliás, posição errada dos pés ao operar uma serra circular pode causar desequilíbrio... e lá se vai o dedo. Na verdade, entre a árvore e o uso final, a perda de madeira é da ordem de 90%! Se Taylor fosse vivo, ficaria ainda mais escandalizado com a trajetória tortuosa e idiota dos papéis em uma burocracia.
Mesmo se hospedando pela décima vez no mesmo hotel, o hóspede deve preencher a mesma ficha boboca, com informações que jamais serão usadas. Eu quis comprar uma garrafa de vinho, mas, sem "fazer o cadastro", a compra só foi possível com a autorização do gerente. Ao cobrar algo, diante do computador, o atendente preenche um formulário com papel-carbono.
Por que fazer um requerimento ao governo? Se paguei a taxa, é porque quero o serviço ou o papel. Por que não pagar Darf com cartão de crédito (e, quem sabe, reduzir a corrupção)? Na fila do correio, posso ver que o processo de trabalho jamais foi pensado com as ideias de Taylor. Os tempos são modernos. Todavia, diante da nossa pífia produtividade, nem tão modernos assim. Sugiro aos nossos doutos professores que, antes de criticar o taylorismo, esperem que ele chegue ao Brasil. Onde ele falta faz!