quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Gladiador e Reality Show

O BBB dispensa maiores apresentações: mesmo quem nunca assistiu, tem uma idéia do que se trata. O programa se estrutura em torno de um suspense e da participação do público, que vota semanalmente em quem será excluído, ou melhor, em quem irá para o “paredão”. Para que o público possa votar, a atuação dos participantes no dia-a-dia do programa é decisiva. Aparentemente, estão apenas conversando, namorando, fazendo ginástica, indo a festas. Mas nós (e eles) sabemos que estão se digladiando para eliminar os outros e vencer. Fazem alianças, traem, simulam, dissimulam, enfim, tentam agradar os eleitores. É tudo ou nada: ou a celebridade instantânea, ou a volta ao anonimato que, na sociedade do espetáculo, é, simbolicamente, o mesmo que morrer. É, pois, uma luta de vida ou morte. Vence o melhor, segundo critérios não muito claros. Simpatia? Amizade? Sedução? Esforço pessoal? A fraqueza ou a desvantagem de um dos competidores? Pode ser que não haja critério algum operando em nível consciente, mas simplesmente o “jeito” da pessoa, que agrada ou não à maioria.

Evocando a gladiatura romana,os gladiadores também lutavam entre si até o fim,Como os participantes do BBB.

A luta entre os gladiadores, ou entre feras e gladiadores, era totalmente realista, e isso empolgava as platéias de Roma. Tratava-se, de certa forma, de um reality show. Quando o gladiador vitorioso encurralava o oponente, convocava o voto popular, que podia ser referendado pelo imperador: polegar para cima, vida; polegar para baixo, morte. A vida do perdedor podia ser poupada, se o público o considerasse um lutador valoroso e digno. Em caso contrário, “paredão”.

Os participantes eram escolhidos em função de seu porte, de sua força e de seu físico. Eram treinados para proporcionar um bom espetáculo, combatendo com bravura e morrendo com dignidade. 

Podiam ser escravos, prisioneiros de guerra ou cristãos, mas até mesmo homens livres se candidatavam, pois era um caminho possível e rápido para a ascensão social. A entrada no Coliseu era gratuita, e as pessoas da platéia podiam apostar no seu favorito. A gladiatura era tema das conversas no dia-a-dia. O leitor pode encontrar facilmente os pontos de aproximação com o BBB.

O programa escolhe os jovens participantes de modo a oferecer suportes identificatórios para os vários perfis de telespectadores. Além disso, como o voto para a exclusão sistemática envolve toda a população, esta se identifica também com o lugar do poderoso, que ergue ou abaixa o polegar. Até a semana que vem, se tudo correr bem, continuamos no páreo.

Há outro elemento que entra na análise do BBB e que, a meu ver, é o decisivo para caracterizá-lo como espetáculo pós-moderno e para compreender seu sucesso. Como na gladiatura, o reality show oferece carne humana para nosso repasto. Somos também o leão na arena.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Reality Show Big Brother Brasil (BBB)

O BBB dispensa maiores apresentações: mesmo quem nunca assistiu, tem uma idéia do que se trata. O programa se estrutura em torno de um suspense e da participação do público, que vota semanalmente em quem será excluído, ou melhor, em quem irá para o “paredão”. Para que o público possa votar, a atuação dos participantes no dia-a-dia do programa é decisiva.


Muita gente fica intrigada com o sucesso do chamado reality show Big Brother Brasil (BBB). Os comentários, ao menos por parte de certo segmento sociocultural, são de que o programa é a própria celebração da mediocridade. 


Mas, se faz sucesso, é porque responde a alguma demanda dos telespectadores. De algum modo, o sucesso sempre tem sentido.
Mas qual? Desconfie de interpretações fáceis como “a platéia também é medíocre” ou “somos todos voyeurs”.


Gostaria de receber uma interpretação ou comentários desse fenômeno contemporâneo  além do senso comum.



O Uso de Mídias em Sala de Aula

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Escola de samba recebe e-mails discriminatórios por causa de enredo

A escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi afirma ter recebido e-mails com conteúdo discriminatório por causa do enredo escolhido para o carnaval 2011:

 “Oxente, o que seria da gente sem essa gente? São Paulo: a capital do Nordeste!”.

 A agremiação da Zona Norte registrou um boletim de ocorrência no dia 17 de dezembro na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

O diretor jurídico da Tucuruvi, Carlos Malachim, conta que decidiu procurar a polícia por causa de mensagens repetidas, enviadas através de e-mails diferentes. “Os primeiros acabamos deletando e, como foi reincidente, o cidadão manda o mesmo texto com e-mails diferentes, decidimos registrar o boletim de ocorrência”, disse. Segundo o diretor, a mensagem critica a escolha do enredo da escola.

No e-mail, o autor afirmou, com palavras de baixo calão: "Capital do Nordeste é o c....! Vão todos tomar no c..., escola de mer...!" Caio, que é filho e neto de pernambucanos, se define como "separatista".

Devido a repercussão na midia o autor do e-mail,o estudante de jornalismo Caio Cézar Soares, 22 anos, afirmou, , estar arrependido das palavras que utilizou na mensagem, mas não da crítica feita à agremiação.

sábado, 1 de janeiro de 2011

A Presidenta : Discurso de Posse

 DISCURSO DE POSSE: 

"Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor.
Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem. Esta dura caminhada me fez valorizar e amar muito mais a vida e me deu sobretudo coragem para enfrentar desafios ainda maiores. Recorro mais uma vez ao poeta da minha terra: "O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem"

(Presidenta Dilma Rousseff, no discurso de posse no Congresso Nacional; 01/01/2011)

Tantos fizeram autocríticas fáceis e autocomplacentes daquele período, não é mesmo? Sabe, Dilma,Você, não. Você jamais se prestou a esse jogo, que teria sido tão fácil replicar e que lhe teria rendido frutos. Sem nunca deixar de pensar o passado de forma crítica, você nunca o renegou. Isso é tão bonito, especialmente num país cuja mídia e senso comum começam a lançar lama sobre os jovens que se insurgiram contra a
ditadura.

O grande escritor argentino Ricardo Piglia criou a personagem perfeita para definir essa turma do arrependimento confortável. Está num lindo livro intitulado A cidade ausente. A personagem se chama Julia Gandini, e é vítima de uma lobotomia virtual que lhe impõe um discurso automortificante, cheio de certezas acerca de quão erradas estavam as certezas passadas.

Julia Gandini repete como um papagaio a lição da boa menina arrependida, prestando esse enorme desserviço à educação das novas gerações, levando-as a crer numa falsa simetria entre verdugos e vítimas.